Então você quer construir mais uma fábrica de CLT?

Então você quer construir mais uma fábrica de CLT?

Esses dias li um artigo fascinante de meu colega Paul Kremer no Linkedin que ajuda a esclarecer um tópico muito importante na indústria madeireira.  No artigo, Paul avalia os prós e os contras dos vários níveis de automação necessários pra colocar pra funcionar uma fábrica de CLT. Essa análise certeira é bem útil se a gente for pensar no que está acontecendo no exterior : uma verdadeira “corrida da madeira engenheirada” com mega usinas hiper automatizadas, prontas pra produzirem CLT.

Então Paul, eu te agradeço por deixar a seguinte questão surgir:

“Será que existem soluções alternativas a um mega investivento e que envolvam um nível de risco mais baixo e com maior acessibilidade de custos?”

A resposta está no mesmo artigo de Paul Kremer, e é sim. Então, já que existe eu me pergunto : “Por que devemos insistir em construir mais uma fábrica de CLT?”

A pergunta pode parecer sem sentido, ou provocativa e devo deixar claro que, se você ainda pretende construir uma fábrica de CLT, vai fundo. Existem soluções econômicas que podem torná-la conveniente.

Entretanto, essa pergunta não é totalmente sem sentido, especialmente se houver algumas considerações relacionadas a esse assunto e que tentarei explicar brevemente neste artigo.

O CLT representa apenas o “alicerce” de uma estrutura muito mais complexa e é fabricado através de um processo industrial com certo nível de automação. O projetista que fica a cargo de todo processo industrial precisa usar um SOFTWARE dedicado para comunicar e enviar os desenhos de fabricação (shop-drawings) diretamente para as máquinas de CNC da fábrica de CLT. Tudo isso envolve um projeto que foi desenvolvido, calculado e desenhado por uma equipe, ou uma empresa de engenharia estrutural com experiência COMPROVADA na área de Estruturas de Madeira.

Além disso, para definir uma estrutura, os painéis precisam ser unidos por componentes de união calculados e projetados precisamente por estes engenheiros e também receber uma série de camadas de membranas que os tornam isolados acusticamente, termicamente e à prova d´água.

Isso implica a presença de “players” adicionais na cadeia de fabricação do CLT.

Se as condições acima mencionadas não forem todas cumpridas, não obedeceríamos a uma regra fundamental inerente à essa metodologia construtiva que é a : “o que você desenha é o que você recebe”, muito bem explicado nos comentários pelo Eng. Franco Piva. É por isso que o CLT é o produto realmente definido como “madeira engenheirada”. Engenheirada por engenheiros mesmo.

Agora me permitam adicionar outro elemento crítico e bastante subestimado a essa cadeia de produção de CLT: a montagem.

Em poucas palavras, a construção da estrutura de madeira identifica uma série de membros integrantes dessa cadeia de suprimentos que, como resultado de um ambiente digital compartilhado, são cada vez mais independentes.

Talvez esse processo industrial, intrínseco desde o início do projeto até a entrega do edifício, represente a principal inovação da indústria da construção de Madeira Massiva.

Já o processo industrial – diferentemente do processo de construção convencional – é, por sua própria natureza, altamente eficiente e capaz de produzir com precisão milimétrica o que é exigido nos projetos e dentro dos prazos estabelecidos e acordados. Essa fase de fabricação, por si só, envolve uma série de restrições tecnológicas, logísticas e de tempo que alteram a cadeia de suprimentos tanto no início quanto no fim do processo construtivo.

Aqui está uma reprodução de um gráfico, do artigo (1): “ Insight in the Global Cross Laminated Timber Industry ” (1) como uma representação perfeita da cadeia de suprimentos CLT.

As restrições de uma fábrica de CLT

Uma fábrica que produz CLT tem um processo industrial peculiar: ela não fabrica produtos padronizados, nem trabalha com “fazer sob encomenda”, mas sim é focada no projeto. Cada pedido é simplesmente diferente dos outros.

Um gerenciamento altamente flexível desse processo é possível com máquinas de CNC equipadas com uma avançada programação digital “controlada” pela fase de cada projeto.

O design e a fabricação podem estar geograficamente distantes um do outro, pois o contato ocorre principalmente por meio de arquivos trocados pela internet.

Porém a fábrica de CLT também está restrita à:

Restrições de mercado

Durante a fase de planejamento da planta da fábrica, uma simulação do ponto de equilíbrio é feita para garantir a sobrevivência da fábrica. Uma lista de pendências é fornecida para garantir a continuidade durante o fluxo do processo.

A pergunta básica: “Será que temos equipe técnica e vendedores suficientemente competentes que podem nos fornecer esses dados com uma razoável garantia?” é perguntada repetidamente pelos investidores.

A disponibilidade da matéria-prima (madeira) no início da cadeira também é verificada para garantir um fornecimento consistente pra fábrica. Já o tipo de matéria-prima depende do grau de integração da fábrica.

A fábrica de CLT, porém é mais vantajosa se possuir uma floresta com fornecimento próprio. No caso de possuir uma floresta, se torna mais benéfico – quanto menor a integração, mais fraca a capacidade de lidar com a disponibilidade de matéria-prima a preços competitivos.

Uma análise cuidadosa dos recursos iniciais é, portanto altamente recomendável.

Restrições técnicas e de habilidades

Uma fábrica de CLT, baseada em sistemas de máquinas e robôs de controle numérico (CNC) não pode começar a funcionar se alguém não ativar um conjunto de informações ou uma rede digital que possa fazê-los se comunicar e funcionarem perfeitamente.

Como dissemos, uma das grandes vantagens inerentes ao CLT é o método de transferência de arquivos: da fase final de projetos (shop drawings) às máquinas CNC.

Somente aqueles com habilidades de engenharia e familiarizados com essas máquinas podem implementar e entender esse conjunto de informações. E isso exclui automaticamente todos os outros engenheiros estruturais que não são proficientes em madeira engenheirada ou que não possuem códigos de acesso digital ou softwares para transmitir essas informações pros robôs.

De um recente estudo sueco, surge uma escassa disponibilidade de habilidades técnicas no mercado de Estruturas de Madeiras Engenheiradas para arquitetos e engenheiros estruturais. (2)

Restrições de processo

Os critérios de sucesso de qualquer processo industrial são: desempenho e qualidade. A eficiência nada mais é do que a razão entre uma determinada saída e uma unidade de tempo. E é o fator de tempo que força qualquer componente da cadeia de suprimentos a cumprir condições impostas pelo processo industrial.

Atualmente a maioria dos fabricantes que seguem processos opera de acordo com as regras da “Fabricação Enxuta” (Lean Manufacturing), como uma aplicação direta do “Lean Thinking”, introduzido no início dos anos 1950 por Taiichi Ohno, da Toyota.

Portanto, espero que as futuras fábricas de CLT adotem este método.

Um dos mantras é evitar qualquer saída que gere “muda” (palavra japonesa que significa desperdício).

“Muda” é qualquer atividade, material ou investimento que, ao longo das fases de um processo, não produza nenhum valor agregado. “Muda” pode ser identificado como: desperdício de tempo, estoque de material, desperdício injustificável e, acima de tudo, capacidade de produção não saturada.

Então como evitar o “muda”?

Há mais de um método aplicável, mas para permanecermos no tema, o mais adequado ao nosso contexto é o chamado “método PULL”. O fluxo do processo é determinado pelo sua última fase (pelo tempo), que é a parte que “empurra” todo o processo. Portando, todas as fases anteriores precisam sincronizar com a última.

No caso de um fluxo desigual entre duas etapas intermediárias, podemos ter um excesso de semi-produto (não acabado) ou uma linha de produção parada. Se acontecerem os dois casos, é desperdício.

Ao considerar a fábrica de CLT como uma etapa intermediária entre toda a cadeia de suprimentos para a construção, o CLT não é o produto acabado, mas sim um semi-produto de um processo mais amplo, que é o de entregar um edifício acabado.

Nesse caso, torna-se inútil maximizar a produção de uma fase específica da cadeia.

A capacidade de produção deve ser proporcional a todos os outros elementos da cadeia de suprimentos, tendo como objetivo final o atendimento das expectativas do mercado em termos de entrega PONTUAL do edifício e obviamente a satisfação do cliente.

Qual o seu negócio afinal?

Não ter a mínima ideia de como funciona o mercado pode levar a interpretações erradas e decisões estratégicas também erradas.

Na década de 1930 e até o início da década de 1950, as empresas ferroviárias americanas criaram um regime de oligopólio no transporte de longas distâncias. Quando isso aconteceu, os próprios usuários finais sentiram a necessidade de ter um meio de transporte mais eficiente. As empresas não conseguiram ver a sua ineficiência, juntamente com os limites estruturais que a ferrovia implicava. Eles não prestaram muita atenção ao surgimento de um concorrente. Na verdade uma série de concorrentes – rodovias interestaduais, fabricantes de carros que forneciam carros mais confortáveis e mais rápidos, fabricantes de aviões e companhias aéreas – se desenvolveram para criar juntos, as condições ideais para uma gama melhor e mais dinâmica de meios de transporte.

As ferrovias americanas, concentradas apenas em aumentar sua participação no mercado, não conseguiram se reconhecer como um subconjunto de um mercado muito mais amplo.

Usei este exemplo para esclarecer que o CLT não é um mercado onde você vende o produto, mas é sim o mesmo velho mercado de construção, e que deve ser visto com novos olhos.

Estas considerações me levaram a fazer mais algumas perguntas:

Por que nos Estados Unidos e no Canadá há uma corrida para instalar fábricas de CLT com alta capacidade produtiva sendo que na realidade não parece haver uma demanda real justificável?

Por que, apesar dessa alta capacidade de produção, o preço do produto CLT na Europa ainda é mais baixo?

Por quanto tempo o CLT vai ser a estrutura “ideal” pra construção?

A variável, independente da velocidade tecnológica, não parece permitir muita longevidade…

Será que temos absoluta certeza de que de agora até a obsolescência tecnológica do CLT as fábricas terão tido um retorno positivo pra quem investiu?

Economias de Escala ou Economias de Habilidades?

Concordo com Paul Kremer e com suas críticas implícitas a respeito de pessoas (muito ricas) que não se importam de investir quantias enormes para subir o mais rápido possível as paredes do mercado, do qual o topo ainda não é visível.

Às vezes, as pessoas querem buscar economias de escala de todos os modos, sem respeitar os ritmos fisiológicos de uma empresa e talvez pensem que a automação de cada fase do processo é a única solução para chegar ao topo mais rapidamente. Quanto mais você tenta automatizar, mais variáveis insere. Então mais complicado se torna o controle do processo todo. Portanto, as economias de escala se tornam “deseconomias” de escala e o “muda” (desperdício) reinará supremo.

Eu acredito que as economias de “escala” devem se opor às economias de “habilidades”. Mas isso é outra história.

Então, mais uma vez: Pra que construir mais uma fábrica de CLT?

Será que não era mais conveniente comprar uma capacidade de produção já existente no mercado, sem ter que arcar com os custos fixos que uma fábrica deve suportar?

Isso certamente aparecerá como uma solução temporária, mas talvez determine uma abordagem mais abrangente dentro de um setor que não precisa mais de bolhas especulativas.

(1) Society of Wood Science and Technology: Insights into the Global CrossLaminated Timber Industry – Dec. 2017 Lech Muszynski ´ 1 *, Eric Hansen 1 , Shanuka Fernando 1 , Gabriel Schwarzmann 1 , and Jasmin Rainer 2 1 Department of Wood Science and    Engineering, College of Forestry, Oregon State University, 119 Richardson Hall, Corvallis, OR 97331.

(2) Roos, A., Woxblom, L. & McCluskey, D. 2010. The influence of architects and structural engineers on timber in construction – perceptions and roles. Silva Fennica 44(5): 871–884

Texto original do Eng. Eugenio Bin : https://innovhousing.net/blog/2020/02/18/a-few-questions-about-the-clt-industrial-process/?preview=true

Tradução : Eng. Alan Dias

Por que construir prédios com madeira?

Por que construir prédios com madeira?

Uma migração da população para os centros das cidades provocou explosões maciças de construção de edifícios em todo o mundo. Com falta de recursos e espaço como consequência da rápida urbanização, novas formas de construção de edifícios sustentáveis devem ser exploradas. A construção em MADEIRA MASSIVA oferece soluções viáveis ​​para a consciência ecológica dos blocos de apartamentos tradicionais de vários andares, usando menos concreto e menos aço.

Em um mundo em que a indústria da construção é responsável por 40% a 50% das emissões de CO2, materiais renováveis, como madeira, podem ajudar a reduzir a taxa de aquecimento global. A madeira sequestra o dióxido de carbono a uma taxa de 1 a 1,2 toneladas / m3 de madeira e tem uma pegada de carbono de fabricação relativamente baixa em comparação com outros materiais. De fato, a madeira é o único material que pode remover o carbono da atmosfera durante toda a vida útil de seu uso. Quando produzida de maneira sustentável, a MADEIRA MASSIVA pode ser extraída e reabastecida com menos impactos ambientais duradouros.

Novas tecnologias de engenharia e técnicas modernas de construção aprimoraram os recursos da construção em MADEIRA MASSIVA, particularmente na construção de prédios. Madeira laminada cruzada (ou CLT) e madeira laminada colada (ou MLC) são dois métodos de produção de madeira engenheirada que permitiram um crescimento vertical significativo na construção civil.

A madeira laminada cruzada (CLT) é composta de várias camadas de madeira seca em estufa, que são empilhadas alternadamente perpendicularmente uma à outra, coladas e pressionadas. O número de camadas em uma seção é determinado pelos requisitos estruturais do painel. Os usos dos painéis CLT são para pisos, paredes e telhados.

A madeira laminada colada (MLC ou Glulam) é um elemento de madeira engenheirada estrutural composto por tábuas de madeira seca e adesivo estrutural. As fibras das tábuas correm paralelas ao seu comprimento, aumentando sua resistência. O MLC é frequentemente usado para treliças, vigas e pilares.

Existem muitas boas razões para explorar todo o potencial da madeira como material de construção de alto desempenho e substituto viável do aço e do concreto:

  1. Velocidade de construção: Fácil de trabalhar, a madeira é facilmente modificada no local e produz pouco desperdício. Os painéis de madeira de montagem rápida fornecem uma plataforma durante a construção e as seções pré-fabricadas podem ser fabricadas fora do local, diminuindo o tempo total de construção. Lembre-se que tempo é dinheiro. Menos tempo na obra, mais barata a obra fica.
  1. Impacto ambiental: a madeira é um recurso 100% renovável de seqüestro de carbono. De maneira sustentável, a madeira pode ajudar a reduzir nossa pegada de carbono.
  1. Segurança e desempenho: em caso de incêndio, a capa carbonizada que forma na madeira permite que a estrutura de madeira restante seja isolada do fogo, por um tempo, antes da falha estrutural – proporcionando aos ocupantes tempo necessário para escapar. A madeira também fornece resiliência sísmica.
  1. Peso estrutural reduzido: como a construção em madeira pesa significativamente menos que a construção em concreto ou aço, a fundação pode ser reduzida em tamanho – economizando tempo e custo de construção, com um benefício adicional de CO2 com menos concreto.
  1. Desempenho térmico: as propriedades isolantes naturais da madeira oferecem alto desempenho térmico. Ao adaptar a espessura da madeira, as propriedades térmicas podem ser ajustadas de acordo com o clima local.
  1. Benefícios biofílicos: Sabe-se que a exposição a elementos naturais, como a madeira, tem um impacto positivo no bem-estar humano. O calor e a qualidade da madeira exposta se prestam ao design geral do espaço e economizam em acabamentos adicionais, uma vez que a estrutura atua como acabamento.

À medida que as tecnologias de construção melhoram e as demandas por construções verdes aumentam, as oportunidades de explorar e ultrapassar os limites da construção em MADEIRA MASSIVA só seguirão o exemplo!

Os prédios de MADEIRA MASSIVA não são 100% em madeira, obviamente. Fundações, caixas de escadas e elevadores ainda são feitos em concreto e aço. A tendência mundial é que esses prédios sejam híbridos, pra equilibrar a equação sustentável, ou seja cada vez mais reduzindo o uso de materiais de fontes não renováveis, como o concreto e o aço e aumentando o uso de materiais renováveis, como a madeira.

Texto : Eng. Alan Dias (alan@carpinteria.com.br)

A grande mudança da Madeira

A grande mudança da Madeira

A primeira imagem é Paris no futuro, com prédios de madeira imaginada por Michael Green. A segunda imagem, em preto e branco, é Metropolis, a visão de Fritz Lang da cidade do futuro, imaginada em 1927. E a terceira imagem é a visão que o clássico anime AKIRA, de 1988 imaginou da cidade de Tóquio no Japão no ano de 2019.

É sempre divertido ver como imaginavam as cidades no futuro para comparar o quanto estavam corretos e o quanto passaram longe de como as coisas realmente são hoje em dia.

Um dos maiores erros : os materiais de construção dos edifícios.

Acontece que as cidades do futuro poderão ser construídas com madeira. Uma infinidade de arquitetos e engenheiros no mundo todo estão abraçando a idéia de usar madeira nos seus projetos. É o material do momento.

Tudo começou efetivamente no ano de 2008 em Londres com o projeto STADTHAUS dos arquitetos Waugh Thistleton. O primeiro prédio residencial, com mais de 8 andares feito totalmente de madeira.

Já em 2014, pelo menos 30 edifícios desse tipo ou até mais altos estavam sendo construídos pelo mundo. E agora, centenas estão sendo projetados e em andamento. É uma onda mundial.

Em 2018, projetistas japoneses revelaram a intenção de se construir o W350, uma torre de 350m de altura. Quando estiver completada em 2041, será o prédio mais alto do Japão e terá 90% de madeira em sua estrutura. Os outros 10% será de aço e concreto.

Se pra vocês 2041 ainda está num futuro bem longe, já existem algumas torres de madeira construídas por aí.  

Em Viena, na Áustria, tem a torre HOHO que está sendo construída e será inaugurada em 2020 e possui 24 andares.Em Bergen, na Noruega, temos a torre TREET de 14 andares e sua construção terminou em 2015.

A razão por essa “febre” de construção em madeira pode ser uma convergência de fatores ambientais, ecológicos e demográficos. Primeiro aconteceu o fenômeno chamado “biggie”, uma crescente percepção sobre as mudanças climáticas no planeta. 

Os últimos dados fornecidos pelas Nações Unidas sobre mudanças climáticas dizem que para evitarmos um total desastre climático devemos limitar o aumento da temperatura global para no máximo mais 1,5 graus Celsius. E para fazer isso, temos que reduzir drasticamente a emissão de CO2 para pelo menos a metade, até 2030.

Na última década, alguns arquitetos estiveram promovendo o uso da madeira na construção civil para reduzir a emissão de CO2 na atmosfera. Essa mudança tem que começar de alguma forma e a madeira certamente fará parte dessa solução para o planeta.

De acordo com cálculos feitos pela universidade de Yale nos EUA, um prédio típico de meia altura construído da forma tradicional em concreto armado e aço, gera aproximadamente 3.000 toneladas de emissão de CO2 na atmosfera durante sua construção e sua vida útil. Construindo o mesmo prédio em madeira, EVITAMOS a emissão de pelo menos 4.000 toneladas de CO2. Isso acontece porque as árvores sequestram o dióxido de carbono enquanto estão crescendo. Cada metro cúbico de madeira que cresce, sequestra pelo menos 1 tonelada de CO2. O estudo de Yale descobriu que simplesmente trocar o material de construção que era de concreto e aço por madeira pode reduzir a emissão de gases no efeito estufa em 31%. É isso que está fazendo com que a madeira seja usada para construção desses novos prédios.

Um outro fator é uma demanda imensa para construções residenciais urbanas. Em 2050, mais de 2,5 bilhões de pessoas estarão morando em áreas urbanas.

Construir esses prédios em madeira é muito mais rápido e eficiente do que construir em concreto armado e também é muito competitivo em relação aos custos. Isso porque tudo é pré fabricado. Dessa forma a construção em madeira elimina vários dos custos indiretos em uma obra, tornando-se super competitiva.

Agora vamos colocar alguns elefantes na sala, o FOGO.

Construir prédios de madeira não é bem uma idéia tão nova assim. Esse é o templo de Horyu-Ji no Japão, a construção de madeira mais antiga do mundo. Foi construída no ano de 607 AC e tem uma altura de 32m. E está num lugar chuvoso e sobre ações de terremotos o tempo todo. Nada mal.

A razão pela qual não temos tantos prédios antigos de madeira como esse é obviamente o fogo. 

Londres foi dizimada pelo grande incêndio de 1666 e isso fez com que as normas de construção civil exigissem que a cidade fosse reconstruída com tijolos e pedras. Nova Iorque, São Francisco, Chicago e Washington também sofreram com grandes incêndios, dizimando quase toda a cidade. E esses eventos ficaram na memória coletiva das pessoas. 

Então o que mudou com essa nova concepção de construção de madeira que estamos falando? Essas torres não são construídas com pequenas peças ou “palitos” de madeira como sempre foi feito há anos, chamadas de woodframe, ou balloon frame. São sim construídas com peças de madeira estruturais e massivas, coladas uma à uma para formar pilares e vigas colossais. É a chamada madeira engenheirada, que passou por uma indústria para se tornar super forte.

Há 20 anos atrás, engenheiros e pesquisadores descobriram que colar a madeira num formato de zig-zag, alternando a direção das fibras, como se fossem entrelaçadas, tornaria a peça de madeira muito mais resistente. Foi aí que surgiu o CROSS LAMINATED TIMBER ou madeira laminada colada cruzada, ou simplesmente o CLT.

O CLT, junto com outros produtos de madeira engenheirada pode ser chamado também de MASS TIMBER ou MADEIRA MASSIVA.

A Madeira Massiva foi já exaustivamente testada em laboratório e universidades do mundo todo contra fogo, incêndio, explosões, ataque de cupins, brocas, fungos, ação de terremotos, etc. E se comportou igual ou até melhor do que o concreto armado ou aço. 

Essas grandes peças de madeira e até árvores gigantes na floresta, se portam muito bem em situações de incêndio. Elas carbonizam na camada exterior e a camada interior permanece intacta. Essa camada carbonizada, corta o Oxigênio e protege o miolo. Portanto, sabemos que a madeira pega fogo, mas pega de uma madeira super previsível. 

A madeira também é ótima contra terremotos e movimentações laterais pois é muito leve e dúctil, porém isso cria um certo tipo de problema. Ela precisa de contraventamentos e travamentos para não movimentar. Para isso contamos com a criatividade dos projetistas desses prédios altos de madeira. 

A RIVER BEACH TOWER que foi proposta em Chicago, tem 80 andares e 228 metros de altura. Para estabilizar horizontalmente uma torre como essa, os projetistas alargaram a planta para ter dois blocos, criaram um núcleo rígido central em forma de treliças, que eles chamam de “favos”, pois lembra uma colméia e esse núcleo estabiliza o prédio todo.

Vejam como a madeira está aparente, à vista e ao toque de todos que vão frequentar esse edifício. Isso nos leva à outro estudo, que mostra que a conexão do ser humano com materiais de origem natural aumenta a nossa sensação de bem estar. 

Embora esses conceitos de prédios altíssimos de madeira sejam maravilhosos, na prática esse tipo de construção tão alta ainda não está pronta para decolar. Esses projetos conceituais são elaborados para fomentar a idéia de construções em madeira para o futuro fazendo com que as pessoas se acostumem com a idéia e empurrando a ciência da engenharia em madeira para novos desafios. 

Na real esses prédios super altos de madeira, se fossem construídos com a tecnologia que existe hoje em dia seriam também super caros.  Aquele super prédio no Japão custaria o dobro do preço de um prédio de madeira que é construído hoje em dia, se fosse feito com a tecnologia disponível. 

Portanto, os prédios super altos de madeira ainda são conceituais e podem estar ainda longe de serem construídos, porém os prédios de altura média entre 8 e 12 andares já são uma realidade plausível e viável, com a Europa e o Canadá liderando a corrida.

Pra finalizar tem mais uma coisinha : a idéia toda de se construir com madeira está totalmente ligada com a floresta, afinal a madeira vem de lá. Então não pense que estamos usando madeira das árvores nativas. A madeira pra essas construções deve vir de florestas com árvores plantadas para esse fim, sustentavelmente manejadas. 

Até agora nenhum governo em nosso país ligou muito pra isso e nunca deu nenhum incentivo para construções em madeira. Acho que está na hora de mudarmos as coisas por aqui também.

Nós da CARPINTERIA, junto com a CROSSLAM estamos trabalhando seriamente e incansavelmente para essa grande mudança!

Texto : Eng. Alan Dias (alan@carpinteria.com.br)

Por que a madeira está de volta no topo da árvore para arquitetos

Por que a madeira está de volta no topo da árvore para arquitetos

Por  – The Observer

Forte, limpa e versátil a MADEIRA ENGENHEIRADA é o “novo concreto”. Com arranha-céus de madeira a caminho, poderia ser a resposta para a crise imobiliária global?

Existe um material de construção milagroso – tão ecologicamente correto que extrai carbono (CO2) da atmosfera ao invés de adicionar (ou liberar); um material com o qual estruturas podem subir a velocidades relâmpago, que reduz o ruído e a interdição de locais de construção, que podem ser tão fortes quanto o aço e muito mais leves, o que torna os trabalhadores da construção civil e os usuários mais felizes, e através de muita tecnologia, está ficando cada vez mais eficiente e adaptável. É o material do futuro“, um arquiteto me diz. Seus mais fervorosos proselitistas acham que isso poderia consertar a superlotação das cidades do mundo. Ao mesmo tempo, essa “coisa” – madeira – é tão antiga que os teóricos do século XVIII acreditavam que Adão construiu a primeira casa de madeira no Jardim do Éden. A madeira, modesta e despretensiosa, entrou em uma cabine telefônica e saiu como “super-substância”.

Seu glamour tem origens sem glamour. É preciso voltar no tempo Nos anos 90, como a tecnologia digital já estava fazendo com que o mundo usasse menos papel do que o esperado, o governo austríaco financiou uma busca por usos alternativos para a madeira cultivada em suas florestas. Gerhard Schickhofer, professor de engenharia, surgiu com uma idéia, que consistia em construir camadas de tábuas, cada uma em ângulo reto com as adjacentes, fixá-los com cola e pressioná-los. Isso faz uma espécie de “madeira compensada”, chamada de MADEIRA LAMINADA CRUZADA (CLT). É forte, rígida e durável, isola o calor e o som, e pode ser pré-fabricado em fábricas com altos níveis de qualidade e precisão. Você pode fazer pisos, paredes, escadas e poços de elevador, empilhando painéis como uma torre de dominós invulgarmente estável.

Embora o CLT receba a maior atenção, é um dos vários produtos que têm o nome de “MADEIRA ENGENHEIRADA”, que têm em comum o uso de novas tecnologias para fazer um material natural funcionar como um industrial. Um dos primeiros a adotar, o britânico Alex de Rijke, da dRMM Arquitetos, que ganhou o prêmio Stirling 2017 com a reconstrução parte-CLT da empresa de Hastings Pier , chamou a madeira projetada de “o novo concreto”. Ele quer dizer que é um material onde a superfície que você vê também é o material que sustenta a construção, que é o material que também impede a mudança de clima. “Pode haver algo muito visceral nisso”, diz De Rijke. “Todos nós gostamos de catedrais de pedra por esse motivo.”

Outro entusiasta, Andrew Waugh, de Waugh Thistleton Arquitetos, aponta as maneiras pelas quais é melhor que concreto. Você pode colocar a estrutura de um bloco de nove andares , como ele fez em Murray Grove, norte de Londres, com uma equipe de quatro carpinteiros em 27 dias úteis. A madeira proporciona locais de construção mais silenciosos, mais calmos e limpos, sem o ruído e a poeira das perfuratrizes e trituradores de martelo. Requer um quinto das entregas por caminhão que o concreto faz. Cria um desperdício mínimo (que, como uma alta porcentagem do lixo que vai para o aterro sanitário provém da construção civil, não é uma questão nada pequena).

O que aprendemos trabalhando com CLT?

O que aprendemos trabalhando com CLT?

Este ano faz mais ou menos 1 ano que começamos a trabalhar com o CLT que a CG CROSSLAM produz aqui no Brasil. A perceria se tornou tão grande e eficiente que fizemos a FUSÃO das duas empresas e nos tornamos uma só. Aprendemos muito, trocamos informações e cada dia mais estamos mais felizes em poder trabalhar com esse material em nossos projetos.

As primeiras obras que montamos foram residências pequenas e escolas, mas muita coisa nova está por vir, cada vez maiores e mais ousadas.

Agora que estamos super familiarizados com o CLT tanto em cálculo como em montagem, segue uma lista de coisas que aprendemos com o material :

1.  ACREDITE NESSA MODA! – o CLT é muito rápido de se construir. Nosso projeto combinou uma estrutura CLT com um sistema de fixação (Alufoot) numa fundação em concreto rasa (tipo radier) e que foi instalado em apenas um dia e tornou a construção ainda mais rápida. Toda a estrutura foi levantada em 4 dias e aparentemente o que aumentou foram as pessoas andando mais devagar em volta da construção pra ver o que estava acontecendo. No entanto, a instalação da hidráulica/elétrica, fachadas ventiladas e cobertura ainda demorou mais do que o esperado. AInda bem que o CLT ganhou tempo de obra para esses outros elementos!

Lição: Se você quiser explorar todos os benefícios do CLT, esteja preparado para trabalhar muito nos estágios iniciais do planejamento do projeto para maximizar a integração com outros itens contratados.

2. CLT É REALMENTE SILENCIOSO AO SE CONSTRUIR – É bem estranho ver o progresso da construção com pouco mais do que o zumbido de uma broca/parafusadeira de mão pontuando a serenidade. Este fato, aliado à velocidade do CLT e à falta de desperdício, torna-o uma maneira de construir com baixíssimo impacto – uma verdadeira bênção para as ruas tranquilas dos subúrbios, onde os vizinhos ODEIAM obra!

Lição: Construa com CLT e seus vizinhos vão adorar você, rs!

3. COM O CLT VOCÊ PODE “PREVER” O QUE VAI ACONTECER PARA CONSTRUIR MAIS RÁPIDO – O CLT dá aos proprietários a opção de rapidamente se mudarem com um mínimo de trabalho nos acabamentos internos. Nestes projetos, os proprietários optaram por fazer muito do trabalho interno e tiveram a capacidade de se mudar pra casa, enquanto ainda faltava pouca coisa pra terminar. Como o custo da construção com CLT é fechado, dá pra se programar EXATAMENTE com o que vai se gastar na obra.

Lição: O CLT oferece aos clientes maior flexibilidade. Algumas coisas para lembrar :

· As dimensões de quaisquer acabamentos adicionais devem ser contabilizadas nos projetos arquitetônicos originais, como contrapisos em pisos ou paredes e fachadas ventiladas – novamente, o planejamento é fundamental.

· O CLT produzido no Brasil é feito de pinus e mudará de cor ao longo do tempo se exposto à luz; portanto, se você optar por deixar o CLT exposto por um período de tempo, tenha cuidado com sombras de tapete no chão e silhuetas de quadros.

4. A ESTRUTURA DE CLT FINALIZADA É MAIS FORTE QUE AS PEÇAS INDIVIDUAIS – Isso é bom quando a estrutura está completa, mas pode causar algumas dores de cabeça durante o processo de montagem. Seções em balanço e grandes vãos podem desenvolver deflexões e movimentações durante a construção, antes que o edifício tenha desenvolvido sua rigidez total. Podem surgir problemas que se ajustam aos painéis subsequentes devido à extrema precisão do CLT.

Lição: Mesmo em projetos simples, o construtor e o engenheiro estrutural devem atender e passar pelo plano de montagem para identificar e reduzir os riscos de tolerância no processo de montagem.

5. AS CONSTRUÇÕES EM CLT OFERECEM MARAVILHOSOS AMBIENTES INTERNOS – Este é mais difícil de definir – um edifício da CLT tem um certo “je ne sais quoi“. Poderia ser porque a sensação de um edifício CLT – uma sensação de solidez monolítica que normalmente só vem com um edifício de concreto? Pode ser porque a madeira pareça atraente para a nossa biofilia inerent?. Ou poderia ser a precisão produzida pelo CNC provocando um senso de ordem e exatidão? Ou talvez seja algo completamente diferente? Procure saber!

Lição: As vantagens do CLT não são apenas a sua sustentabilidade ou o processo de construção simplificado – os edifícios CLT acabados criam espaços internos fantásticos.