Por Rowan Moore – The Observer
Forte, limpa e versátil a MADEIRA ENGENHEIRADA é o “novo concreto”. Com arranha-céus de madeira a caminho, poderia ser a resposta para a crise imobiliária global?
Existe um material de construção milagroso – tão ecologicamente correto que extrai carbono (CO2) da atmosfera ao invés de adicionar (ou liberar); um material com o qual estruturas podem subir a velocidades relâmpago, que reduz o ruído e a interdição de locais de construção, que podem ser tão fortes quanto o aço e muito mais leves, o que torna os trabalhadores da construção civil e os usuários mais felizes, e através de muita tecnologia, está ficando cada vez mais eficiente e adaptável. “É o material do futuro“, um arquiteto me diz. Seus mais fervorosos proselitistas acham que isso poderia consertar a superlotação das cidades do mundo. Ao mesmo tempo, essa “coisa” – madeira – é tão antiga que os teóricos do século XVIII acreditavam que Adão construiu a primeira casa de madeira no Jardim do Éden. A madeira, modesta e despretensiosa, entrou em uma cabine telefônica e saiu como “super-substância”.
Seu glamour tem origens sem glamour. É preciso voltar no tempo Nos anos 90, como a tecnologia digital já estava fazendo com que o mundo usasse menos papel do que o esperado, o governo austríaco financiou uma busca por usos alternativos para a madeira cultivada em suas florestas. Gerhard Schickhofer, professor de engenharia, surgiu com uma idéia, que consistia em construir camadas de tábuas, cada uma em ângulo reto com as adjacentes, fixá-los com cola e pressioná-los. Isso faz uma espécie de “madeira compensada”, chamada de MADEIRA LAMINADA CRUZADA (CLT). É forte, rígida e durável, isola o calor e o som, e pode ser pré-fabricado em fábricas com altos níveis de qualidade e precisão. Você pode fazer pisos, paredes, escadas e poços de elevador, empilhando painéis como uma torre de dominós invulgarmente estável.
Embora o CLT receba a maior atenção, é um dos vários produtos que têm o nome de “MADEIRA ENGENHEIRADA”, que têm em comum o uso de novas tecnologias para fazer um material natural funcionar como um industrial. Um dos primeiros a adotar, o britânico Alex de Rijke, da dRMM Arquitetos, que ganhou o prêmio Stirling 2017 com a reconstrução parte-CLT da empresa de Hastings Pier , chamou a madeira projetada de “o novo concreto”. Ele quer dizer que é um material onde a superfície que você vê também é o material que sustenta a construção, que é o material que também impede a mudança de clima. “Pode haver algo muito visceral nisso”, diz De Rijke. “Todos nós gostamos de catedrais de pedra por esse motivo.”
Outro entusiasta, Andrew Waugh, de Waugh Thistleton Arquitetos, aponta as maneiras pelas quais é melhor que concreto. Você pode colocar a estrutura de um bloco de nove andares , como ele fez em Murray Grove, norte de Londres, com uma equipe de quatro carpinteiros em 27 dias úteis. A madeira proporciona locais de construção mais silenciosos, mais calmos e limpos, sem o ruído e a poeira das perfuratrizes e trituradores de martelo. Requer um quinto das entregas por caminhão que o concreto faz. Cria um desperdício mínimo (que, como uma alta porcentagem do lixo que vai para o aterro sanitário provém da construção civil, não é uma questão nada pequena).
Enquanto uma tonelada de concreto emite quase uma tonelada de carbono em sua fabricação, uma tonelada de madeira irá, através das árvores de onde é feita, remover até duas toneladas de carbono da atmosfera, dependendo da espécie. “Se você tivesse que inventar uma máquina”, diz Waugh, “o que lhe dá um suprimento renovável de materiais de construção enquanto reduz os níveis de carbono, seria uma árvore.” É claro que, para alcançar esses ganhos, a construção de madeira tem que vir de árvores que são substituídas (replantadas), mas aqui também pode ser benéfico. Pode criar uma demanda que estimule o crescimento de novas florestas e o cuidado com as existentes. Waugh diz que ele conheceu silvicultores no noroeste americano que estão entusiasmados com o renascimento da construção de madeira, pois com isso poderia fazer reviver seus bosques.
Além dos benefícios ambientais, os argumentos práticos ainda são fortes – tanto Waugh quanto De Rijke têm clientes comerciais obstinados que usam MADEIRA ENGENHEIRADA porque sua velocidade de construção lhes poupa dinheiro. Por todas essas razões, espera-se que o mundo use um milhão de metros cúbicos de CLT este ano, em comparação com 2.000 metros cúbicos em 2003. Sua existência dificilmente é novidade no mundo da arquitetura, mas agora é no ponto em que ela está se tornando dominante.
Haverá também arranha-céus de madeira, que são o tema do Timber Rising , uma próxima exposição na Roca London Gallery. Michael Green, um arquiteto de Vancouver (Canadá), propôs uma torre de 35 andares, chamada Baobab, que ocuparia o Périphérique em Paris. Com o engenheiro Eric Karsh, ele descobriu que agora seria possível, se não muito sensato, construir o Empire State Building de madeira. Green fez uma palestra no TED, proclamando que, à medida que bilhões de pessoas estão se mudando do campo para as cidades, as torres de madeira poderiam fornecer as casas de que necessitam. A madeira, diz ele, é “a forma de construção mais tecnologicamente avançada“, oferecendo “a primeira nova maneira de construir um arranha-céu em 100 anos“, mas a qual a “mãe natureza detém a patente“.
Como as palestras do TED costumam ser, Green é um pouco pregador e simplista, mas ele pode apoiar seu entusiasmo com edifícios comerciais substanciais – há um chamado T3 em Minneapolis , por exemplo – feito de madeira. Ele está “tendo conversas”, diz ele, cerca de 30 mais. O principal obstáculo, acredita ele, à conquista do mundo da construção pela MADEIRA ENGENHEIRADA é a “educação”. Não há profissionais suficientes para entendê-lo e aqueles que estão ocupados demais para explicá-lo aos outros. Os regulamentos de construção em muitas cidades ainda são cautelosos. A madeira, diz ele, precisa de “seu momento da Torre Eiffel” que fará com que todos percebam suas possibilidades.
Outros são céticos sobre a preocupação com a altura. De Rijke acredita que há um limite para o quão alto uma estrutura de madeira pode ir sensivelmente, e que há outros problemas arquitetônicos a serem resolvidos na construção alta. E ele acha que, em toda a preocupação com as maravilhas técnicas da madeira, é possível perder de vista o fato de que “é um material muito melhor do que qualquer outro”. Tem, ele diz, “textura embutida, senso de escala, grão, aroma. Isso afeta a qualidade do ar sobre ele. Você pode fechar os olhos e ainda notar a diferença.”
Todos com quem falo sobre madeira me dizem que, embora sejam necessárias mais pesquisas sobre o assunto, construções de madeira fazem as pessoas se sentirem melhor. Eles reduzem o estresse, diminuem a frequência cardíaca, acalmam as crianças nas salas de aula, melhoram a recuperação nos hospitais – o que parece intuitivamente provável. Atmosferas saudáveis poderiam, é claro, ser engendradas por todos os tipos de madeira, antiquadas ou engenheiradas, mas a atração da última seria que ela pudesse alcançar tais qualidades em estruturas novas grandes e eficientes.
A única coisa é que ainda não existem muitos edifícios feitos de CLT, ou um de seus primos, que realizam plenamente os poderes transformadores com os quais são creditados. Muito parecido com edifícios de aço ou concreto que são feitos de madeira. Eles tendem a ser um pouco “quadrados”. Muitas vezes a madeira é coberta com outros materiais. Se a MADEIRA ENGENHEIRADA é verdadeiramente o material do futuro, suas possibilidades arquitetônicas estão apenas começando a ser descobertas.
Quando lhe dizem que algo é maravilhoso e muda o mundo, um toque de ceticismo é uma reação natural, e a revolução prometida pelos crentes na madeira ainda não pode acontecer. Mas o caso parece convincente – no mínimo, é uma boa maneira de construir vários outros. Por fim, caso você esteja preocupado, os prédios de madeira projetados não queimam facilmente. Em altas temperaturas, o concreto explode e o aço entorta, mas a madeira, se é grossa o suficiente, carboniza, e forma uma camada de autoproteção. Demora um tempo para o fogo consumi-lo.
Tradução : Eng. Alan Dias
